UMA CASA PARA ARRUMAR

Brasil Economia

por Fábio Granner

Já passaram-se quatro meses de governo Jair Bolsonaro e o país ainda parece tentar entender qual o rumo que está tomando. A campanha eleitoral do presidente eleito foi muito clara em seus propósitos apresentados ao eleitor: conservadorismo, baseado nos princípios do cristianismo, e política econômica de corte liberal, desestatizante. 

A despeito desse início de governo parecer aderente aos princípios centrais expostos na campanha; a sensação que, até o momento, a gestão bolsonarista tem passado é de muita dificuldade em transformar ideias em realidade. Além disso, chama a atenção o nível elevado de tumulto na articulação política, que inclui não só a relação com o Congresso Nacional, mas também com a sociedade, a qual saiu extremamente dividida após o pleito de outubro.

É natural que inícios de governos sejam mais tumultuados. Afinal, seus integrantes ainda estão compondo suas equipes, buscando entender como a máquina pública funciona e descobrindo os limites impostos pela realidade. E quando falamos de um governo eleito com discurso antissistema e cujos principais nomes não faziam parte do stablishment político, essa percepção de confusão é ainda mais válida, por conta dos inevitáveis choques com as estruturas que ali já estavam antes deles.

Ainda que se dê esses descontos e ressalvas, a gestão de Bolsonaro tem se notabilizado por exacerbar confusões e se enredar em crises desnecessárias. Brigas e polêmicas em redes sociais, declarações desencontradas, desmentidos frequentes (até o presidente foi corrigido pelo secretário da Receita Federal, que, mais recentemente, recebeu o troco após uma desastrada ideia de tributar igrejas), erros de articulação com aliados no Congresso, escalações erradas (como a do ministro da Educação que foi demitido recentemente e sucedido por outro), denúncias de corrupção contra o partido do presidente e uma estratégia de comunicação errática chamaram a atenção nesse início de governo.

Não à toa, Bolsonaro consumiu boa parte de seu capital político, nesse curto período de tempo, sem ter obtido ganhos concretos e relevantes para seu projeto, como o avanço mais rápido da reforma da Previdência – prioridade declarada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que caminha mais lentamente do que esperava a equipe econômica. 

Além dos inimigos que evoca externamente, o atual governo não se acerta internamente com dois grupos: militares e olavistas – seguidores do suposto “guru” dos filhos do presidente da República. Ambos vivem digladiando-se e denegrindo ainda mais a imagem do governo, trazendo a sensação de falta de rumo.

Mais recentemente, percebeu-se que houve uma tentativa de se colocar um freio de arrumação no governo por parte do presidente. Os sustos tomados no Congresso, principalmente com o incrível atraso da votação da reforma da Previdência na CCJ da Câmara – onde o normal seria passar rapidamente e sem qualquer mudança -, parecem ter acendido o sinal de alerta para o presidente, que agora tenta reorganizar a articulação política, aproximando-se do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), representante da velha política, tão desdenhada pelo bolsonarismo.

A política econômica é onde o atual governo encontra menos dificuldade, a despeito da tragédia do desemprego de cerca de 13 milhões de pessoas ainda não dar qualquer sinal de ceder e o marasmo econômico seguir dando as cartas.

O “posto Ipiranga” Paulo Guedes conta com a boa vontade da elite econômica do país e com o poder delegado pelo presidente, apesar de episódios confusos mais recentes como o vai e vem do preço do diesel e a intervenção em propaganda do Banco do Brasil. 

Enquanto tenta avançar em uma agenda de simplificação e desburocratização, além de tentar deslanchar concessões e privatizações, Guedes deixa claro que, para ele, o mais importante é a reforma da Previdência ser aprovada. A trilionária proposta de economia embutida na proposta de Emenda Constitucional certamente será “desidratada” no Congresso. Porém, se os principais itens, como a idade mínima para se aposentar, passarem, já será um grande feito, o qual tenderá a atrair investidores e contribuirá para a volta do crescimento do país. 

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